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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A mais-valia: fonte de lucro

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A mais-valia: fonte de lucro
Todos nós conhecemos pessoas que enriqueceram rapidamente.

O Sr. Z tem uma fábrica de roupa feita. Paga às suas costureiras um salário mais ou menos baixo. Depois de certo tempo, o senhor Z já tem dinheiro para comprar um novo negócio e continua sempre ganhando dinheiro. De onde provém o lucro do Sr. Z?

O Sr. Z, por exemplo, vende 10 vestidos num dia. Cobra Cr$ 9,00 por vestido, percebendo um total de Cr$ 90,00. Gastou nesse dia, em salário, materiais, aluguel, etc., Cr$ 50,00. Donde se originaram os Cr$ 40,00 de lucro?

Outro exemplo:

O comerciante X tem uma soma de dinheiro igual a D. Compra com esse dinheiro uma certa quantidade de mercadorias igual a M; vendendo-as obtém uma quantidade de dinheiro igual a D + a, isto é, o dinheiro anteriormente empregado e mais um lucro.
De onde se originou o lucro a?

A primeira resposta que nos ocorre é que o aumento se originou dos preços. Ele compra por um preço e vende mais caro, tirando daí o seu lucro. Isto é o que nos parece à primeira vista, mas, se estudarmos mais esse problema, e se nos recordarmos de que o preço oscila acima ou abaixo do valor da mercadoria, e que a soma do valor cm circulação não pode aumentar pela circulação desses valores, verificaremos que não acontece o que superficialmente nos parece.

Se temos entre nós diversos objetos que trocamos, alguns de nós poderão sair mais ou menos favorecidos, mas a quantidade de objetos não aumentará. O que beneficia a um, prejudica a outro. Se a troca produzisse valores, não seria necessário trabalhar.

Além disso, se na troca, na venda, estivesse a razão do lucro do comerciante, como o comerciante é comprador (do atacadista) e vendedor (à freguesia) ao mesmo tempo, uma tiraria do outro o lucro, lucro este, que seria sempre igual. Por mais que se troquem mercadorias (e o dinheiro é também uma mercadoria), a quantidade de valor contida em cada uma e no no conjunto delas não variará.

★ ★ ★

Suponhamos que o Sr. Z obrigasse suas costureiras a produzirem o dobro do trabalho, de maneira que, em vez de 10, produzissem 20 vestidos por dia.

O Sr. Z receberia agora não só Cr$ 90,00 (10 vestidos a Cr$ 9.00 cada um), mas sim Cr$ 180,00 (20 vestidos a Cr$ 9,00 cada um). As despesas que eram de Cr$ 50,00 aumentariam para Cr§ 80,00, pois gastou mais materiais para a confecção. Desse modo, restaria de lucro ao Sr. Z o seguinte: Cr$ 180,00 — Cr$ 80,00 — Cr$ 100,00. Isto é, o fato de fazer trabalhar mais as operárias fez aumentar os lucros do Sr. Z.

Suponhamos que o pessoal do Sr. Z se declare em greve. O Sr. Z já não ganhará os Cr$ 100,00 por dia e protestará contra as operárias ingratas que se rebelam apesar dele lhes dar trabalho, "dar-lhes meios para poder viverem".
De onde provem o lucro?
Já vimos que o lucro não provém da troca. Havia uma maneira de consegui-lo: arranjar uma mercadoria que, sem trabalho algum, se reproduzisse por si só.

Procuremos essa mercadoria: serão as sementes?

Não. As sementes não se reproduzem por si sós; é preciso arar a terra, semear e proteger as sementeiras, regar e colher; são necessários os peões, os instrumentos de trabalho; seria preciso pagar o arrendamento da terra, etc., etc.

Seria por acaso o gado? Podemos dizer a este respeito o mesmo que já dissemos sobre as sementes; é necessário cuidar dele, alimentá-lo, curá-lo, pagar o arrendamento do campo, onde ele pasta, etc.

Então, de que mercadoria se trata?

Já vimos que existia uma mercadoria "ingrata", que deu um desgosto ao Sr. Z: a força de trabalho de seus operários, que o Sr. Z pagou com salário. E vimos que, quando o pessoal do Sr. Z se declarou em greve, este senhor não recebeu nem Cr$ 50,00 nem os Cr$ 100,00 de lucros, diários, da mesma forma que não contribuiu para que ela subsistisse.

E é precisamente aí que se encontra a fonte de lucros. O Sr. Z paga aos seus operários o preço de sua força de trabalho, mas este salário é determinado pelo seu valor, isto é, o custo das mercadorias necessárias para que o operário reponha suas forças gastas no trabalho, recupere as suas energias.

Entretanto, o operário produz com a sua força de trabalho mais valor do que o que recebe para restaurar a sua força de trabalho, e esse sobre-valor, mais-valiaé aproveitado pelo capitalista, beneficiando-se este do fato de ser o proprietário dos meios de produção, propriedade que é garantida pelas leis e pela sua coaçãoa força policial, o Estado burguês.

O Sr. Z tem um parceiro. É o comerciante X, que se encarrega de trazer a clientela e de colocar os produtos do industrial Z.

Além disso, o comerciante paga os produtos fabricados pelo industrial Z, antes de havê-los vendidos. Por esse motivo, em vez de cobrar Cr$ 9,00 por vestido, o Sr. Z cobra apenas Cr$ 8,00, deixando de ganhar Cr$ 20,00 por dia, que são embolsados pelo Sr. X. Mas já vimos que os Cr$ 80,00 do industrial Z e os Cr$ 20,00 do comerciante X, são originados do sobre-valor criado pela classe operária, a mais-valia.

★★★
O Sr. Z quer abrir uma nova fábrica. Pede Cr$ 10.000,00 a um Banco e este empresta-lhes com 5 % de juros, sobrando, no fim do ano, Cr$ 10.500,00.

O Banco emprestou essa soma de um Sr. R, a quem deu, pagando um juro de 5%, a quantidade de Cr$ 10.400,00, no fim do ano. Assim, o Banco ganhou Cr$ 100,00, o Sr. R ganhou Cr$ 400,00 e tudo foi pago com os Cr$ 500,00 do Sr. Z, cruzeiros esses que são uma parte do produto da mais-valia obtida de seus operários.

Alguém, entretanto, poderia pensar: "Não, a mais-valia é obtida pelo senhor Z de seus clientes, que lhe pagam os vestidos". Mas tal não se dá porque os clientes pagam um vestido que representa trabalho materializado.

O industrial ou o comerciante podem cobrar mais pelos vestidos, isto é, preço muito acima de seu valor, mas, neste caso, o industrial obtém a mais-valia dos operários e ainda um lucro suplementar, resultante da mistificação que sofreu o consumidor.

Lembremo-nos que o lucro do capitalismo não é consequente das trocas, porque
"a soma dos valores em circulação não poderia evidentemente ser modificada por sua repartição, assim como um judeu não aumentaria à massa de metais preciosos de um país, vendendo por um guinéo um moeda de cobre do tempo da rainha Ana. O conjunto da classe capitalista de um país não pode enganar-se a si mesma". (Carlos Marx, O Capital, t. l.°, pág. 185).
★ ★ ★

O industrial Z não fica com toda a mais-valia obtida de seus operários. Como não vende a mercadoria diretamente, uma parte dessa mais-valia (que é o trabalho suplementar não- pago ao trabalhador) é aproveitada pelo comerciante, uma outra parte pelo dono do local onde o industrial tem a fábrica e que recebe uma renda, uma terceira parcela pelo Banco que empresta dinheiro ao Sr. Z, que paga a sua dívida aumentada com os juros, etc.

Com isso já se pode ter uma ideia de como a mais-valia se reparte entre toda a classe capitalista.

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