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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Especiais – 80 anos da Guerra Civil Espanhola

Viva o Quinto Regimento!




Dezoito de julho de 1936. Iniciado no dia anterior no Marrocos (que era um “protetorado” espanhol), pela sublevação do Exército colonial lá estacionado às ordens do general Francisco Franco, o levante militar fascista contra o governo de Frente Popular, minuciosamente planejado pela cúpula golpista, propagou-se por toda a Espanha. Mas com êxito muito desigual. Em Barcelona, em Madri, em Bilbao, bem como na Marinha de Guerra, os fascistas foram derrotados. Na Andaluzia e na Galícia, notadamente, eles lograram vencer a resistência popular e deram vazão a seu ódio promovendo execuções em massa. Em outras regiões (Astúrias, Navarra, Levante) travavam-se encarniçados combates sem resultados definitivos.
Via de regra, onde as autoridades republicanas aceitaram distribuir armas aos operários e ao povo em geral, o golpe foi contido; onde não as distribuíram, atendo-se a um legalismo imbecil, as consequências foram trágicas. Em Madri, as organizações operárias juntaram algumas centenas de fuzis. Contaram com o apoio do tenente coronel Rodrigo Gil, comandante do Parque de Artilharia do Pacífico, que procurou os dirigentes do Partido comunista para oferecer as armas de que dispunha. Na noite de 18 e durante a madrugada de 19 de julho, as organizações de massa do Partido comunista, do Partido Socialista Obrero Español (PSOE), da Juventud Socialista Unificada (JSU) (formada em março de 1936, pela fusão das juventudes comunista e socialista), bem como as centrais sindicais e outras forças operárias e republicanas mobilizaram-se para a defesa da capital. Suas formações de combate foram agrupadas nas Milicias Antifascistas Obreras y Campesinas de Madri (MAOC), que se incumbiram de cercar os quarteis controlados pelos golpistas.
Dois dos mais importantes quarteis de Madri, o de Getafe e o Acampamento de Carabanchel, vasto conjunto de instalações militares, estavam também na mão dos sublevados. Às 5 da manhã do dia 20, o regimento de artilharia de Getafe abriu fogo contra os hangares e depósitos de combustível do aeroporto de Cuatro Vientos, cujos oficiais permaneciam leais ao governo republicano. O contra ataque não tardou: uma coluna de soldados da Aeronáutica juntou-se aos milicianos que cercavam Getafe; num assalto impetuoso, eles tomaram o quartel. Sem descansar, a coluna avançou sobre o complexo de Carabanchel. O ataque foi rápido, apoiado por alguns aviões e artilharia. Na confusão dos combates, os soldados que lá estavam passaram em massa para as fileiras republicanas.
Para completar a vitória do povo armado sobre os golpistas faltava conquistar o Cuartel de la Montaña, fortaleza situada numa elevação na entrada da capital. Em 18 de julho, cadetes da Escola Militar de Toledo e muitas centenas de falangistas, armados e uniformizados, tinham lá se instalado. No dia 19, o general Fanjul, chefe da sublevação fascista na região de Madri, assumiu o comando da fortaleza. Na madrugada do dia 20, o governo intimou-o duas vezes a acatar as leis da República. Perante duas respostas negativas, os milicianos lançaram-se ao ataque, apoiados por contingentes dos corpos armados que permaneceram fiéis à República (Guardia Civil, Guardias de Asalto, parte da Aeronáutica). Muitos foram atingidos pelo nutrido fogo dos fascistas. Mais fortes, porém do que a morte, eles persistiram com o mesmo ardor; o fuzil da cada um que caía era disputado pelos que vinham atrás. A batalha prosseguiu, indecisa e mortífera durante várias horas, até a chegada de quatro canhões trazidos do Parque de Artilharia do Pacífico por dois oficiais, o capitão Ordaz e o tenente Vidal. Mais algumas horas de combate foram necessárias para tomar a fortaleza. Fanjul e outros altos oficiais golpistas foram entregues a um tribunal militar. As demais unidades do Exército que se tinham sublevado em Madri renderam-se. O povo tinha esmagado o golpe e salvo a República. O grande poeta Antonio Machado celebrou a vitória constatando que “a imortalidade do povo consiste precisamente nisto: em que não morre quando o assassinam”.
O célebre e entranhável hino “del Quinto regimiento”, do qual há algumas boas versões no youtube, assim começa:
El dieciocho de julio
En el patio de un convento
El Partido comunista
Fundó el Quinto Regimiento
O convento (e também colégio) em cujo pátio foi fundado o glorioso regimento era dos salesianos. Em vez de rezas e catecismo, o ensino passou a consistir em instrução militar e formação revolucionária para operários e camponeses.
Há quem leia e cante no terceiro verso “El Pueblo madrileño”, em vez de “El Partido comunista”. As duas versões são boas e politicamente complementares. Há também discrepâncias sobre a data de fundação. O canto celebra “El dieciocho de julio”, mas as fontes historiográficas indicam o dia 20. A explicação nos remete às MAOC, formadas para proteger os militantes comunistas e socialistas em manifestações e reuniões. A sanha assassina dos fascistas espanhóis, à semelhança da de seus inspiradores italianos e alemães, impunha rigorosas medidas de autodefesa.  No dia 18, desencadeado o golpe, as milícias se organizaram em cinco batalhões; o quinto ocupou o convento e se transformou em regimento no dia 20. Ele se cobriu de glória na defesa de Madri e na guerra antifascista.

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