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quarta-feira, 27 de abril de 2016

A Classe Operária e a Pátria-P. Fedosséiev

A Classe Operária e a Pátria

A classe operária levantou a bandeira da luta contra a pedra angular de toda opressão — contra a exploração do homem pelo homem. O proletariado não mais tolera a opressão nacional nem qualquer outra forma de opressão. O proletariado revolucionário dos Estados capitalistas que mantêm em servidão os povos das colônias e dos países dependentes tem por divisa de combate a célebre tese marxista — «Um povo que oprime outros povos não pode ser um povo livre».

Na época do imperialismo, a atitude para com a pátria e o patriotismo tornaram-se um dos mais ardentes problemas da luta ideológica e da delimitação política no movimento socialista internacional. No início do século XX, surgiram sobre o assunto dois pontos-de-vista extremos, ambos inaceitáveis para os marxistas. Antes da primeira guerra mundial, os anarquistas e os outros socialistas pequeno-burgueses que pregavam a indiferença para com os problemas de independência nacional chegaram a negar a ideia da auto-determinação das nações e da defesa da pátria em geral; a negar até mesmo a ideia de pátria. Por exemplo: o anarquista francês Hervé afirmava que a questão de pátria, de nação, é absolutamente indiferente para a classe operária. Os oportunistas do tipo do social-democrata alemão Vollmarafirmavam, pelo contrário, que os socialistas deviam ser pela defesa da pátria, qualquer que fosse a guerra — mesmo uma guerra declaradamente de conquista. Os «ortodoxos» da época, na II Internacional, divergiam quanto à forma dessas opiniões não-marxistas. mas eram incapazes de dar uma solução científica ao problema da atitude para com a pátria. A célebre tese do Manifesto Comunista «Os operários não têm pátria», eles a interpretavam no espírito do niilismo nacional ou então a declaravam caduca. O próprio Plekhánov, que na época defendia as posições do marxismo, não chegava a resolver a questão da pátria e oscilava do cosmopolitismo «socialista» ao social-chauvinismo extremado. Até à primeira guerra mundial, afirmava ele que a ideia de pátria era contrária ao princípio do internacionalismo, que o menosprezo aos direitos de outras pátrias era condição psicológica indispensável ao amor de sua própria pátria. Durante os anos da guerra mundial, Plekhánov — como VollmarHervé e outros oportunistas — tornou-se social-chauvinista, propagandista furioso da defesa da pátria burguesa em uma guerra de pilhagem imperialista. Assim, o niilismo nacional e o chauvinismo apresentaram-se não como antípodas mas, tão somente, como duas variedades da ideologia burguesa.

O Partido bolchevique tinha a única concepção justa, consequente, do ponto-de-vista marxista, da atitude a observar com relação à pátria. Essa concepção foi expressa nas seguintes teses clássicas de Lênin:

«Que 'os proletários não têm pátria', está dito efetivamente no Manifesto Comunista; que a posição deVollmar, de Noske & Cia. esteja em flagrante contradição com essa tese fundamental do socialismo internacional é igualmente verdade. Isso não quer ainda dizer, porém, que Hervé e os herveistas tivessem razão ao afirmar que é indiferente ao proletariado saber em que país vive — na Alemanha monarquista ou na França republicana, ou na Turquia despótica. A pátria — isto é, um determinado meio político, cultural e social — é o fator mais poderoso na luta de classe do proletariado; e se Vollmar não tem razão de estabelecer uma posição «verdadeiramente alemã» do proletariado acerca de «pátria», Hervé não tem maior razão ao se apresentar com uma imperdoável ausência de espírito crítico sobre fator tão importante da luta libertadora do proletariado. O proletariado não pode ficar indiferente com relação às condições políticas, sociais e culturais de sua luta; por conseguinte a sorte de seu país não lhe pode ser indiferente».(1)

Para os operários conscientes, o patriotismo está ligado indissoluvelmente às ideias de solidariedade internacional dos operários de todos os países, ao internacionalismo proletário, ao interesse da luta pela democracia e o socialismo. A defesa das reivindicações e dos interesses gerais da nação pelo proletariado não pode esconder o antagonismo de classe da nação burguesa; o proletariado luta também pela hegemonia no movimento de libertação nacional e se esforça por afastar a burguesia da direção da nação, cujos interesses ela trai. O proletariado luta por se tornar a força dirigente da nação. É justamente sob esse ponto-de-vista, consideradas as condições históricas concretas, que os operários conscientes resolvem a questão da defesa da pátria. Os marxistas reconhecem como legítima a palavra-de-ordem de defesa da pátria em uma guerra justa, defensiva. Os marxistas negam, entretanto, a aplicarão dessa palavra-de-ordem às guerras injustas, de conquista, porque nessas guerras ela serve para enganar o povo, para encobrir a política imperialista de pilhagem e de escravização de outros povos.

Os homens-de-vanguarda de nosso país condenaram resolutamente a política reacionária, de conquista, do czarismo. A classe operária da Rússia e sua vanguarda o Partido Comunista — combateram a guerra imperialista de 1914-1918 como uma guerra que não tinha como objetivo a defesa da pátria, mas, sim, a conquista de territórios estrangeiros e a pilhagem de outros povos. Os bolcheviques eram pela derrota do czarismo na guerra imperialista e apelaram para os operários de todos os países imperialistas no sentido de serem pela derrota de seus governos na guerra: de pilhagem, porque isso facilitava a libertação dos trabalhadores.

Defendendo a tática revolucionária, os bolcheviques se mostraram verdadeiros patriotas, verdadeiros combatentes pela libertação e desenvolvimento progressista de sua pátria. Durante a guerra imperialista, enquanto a burguesia chauvinista e seus lacaios socialistas caluniavam furiosamente os bolcheviques tratando-os de antipatriotas, apareceu o célebre artigo de Lênin «O Orgulho Nacional dos Grandes Russos», no qual ele dava as razões científica das ideias patrióticas do "proletariado socialista e de sua luta pela liberdade e prosperidade da pátria. Levando ao pelourinho os carrascos czaristas, os nobres e os capitalistas que haviam submetida nossa pátria às violências, à opressão e às perseguições, Lênin assinalava, com profundo sentimento de orgulho nacional, que a nação russa havia dado à humanidade grandes exemplos de luta| pela liberdade e pelo socialismo; que a classe operária russa havia criado um poderoso Partido revolucionário que marchava à frente das massas populares. Os bolcheviques inspiravam-se no fato de que, em uma guerra entre Estados imperialistas, é impossível defender a pátria de outra maneira a não ser pela luta revolucionária contra os grandes proprietários da terra e os capitalistas do próprio país, pela derrota do governo que oprime seu próprio povo e os povos de outros países.

Os mencheviques, os socialistas revolucionários e outros inimigos dos bolcheviques, que apregoavam a «defesa da pátria» puseram-se ao lado dos imperialistas, romperam com a causa do socialismo e traíram os interesses da pátria. Para maior proveito dos grandes proprietários de terra e dos capitalistas, eles mergulharam o país em um marasmo e no esgotamento de uma guerra de pilhagem imperialista, e o entregaram à escravização do imperialismo estrangeiro. Foi o Partido Comunista que salvou nossa pátria desse destino vergonhoso, levantando a classe operária o campesinato para derrubar o poder dos imperialistas e cria um poderoso Estado Soviético.

Os mencheviques, os socialistas revolucionários e outros social-chauvinistas eram pseudo-socialistas, pseudo-patriotas. Não foi por acaso que depois da revolução socialista de outubro foram eles os mais infames traidores da pátria, os cúmplices da contra-revolução branca e da intervenção estrangeira, os agentes dos serviços de espionagem estrangeira.

Durante a guerra imperialista os oportunistas de todos os países pregaram — sob a bandeira do patriotismo — o chauvinismo burguês, e ajudaram «sua» burguesia a enganar os operários. Já nessa ocasião ficou claro que a burguesia de vários países havia conseguido a submissão dos dirigentes dos partidos operários e das organizações sindicais, dos quais se tornou esteio. Graças à posse das colônias, à sua situação dominante no mercado mundial, os imperialistas abocanham enormes super-lucros, dos quais gastam uma pequena parcela na compra de dirigentes operários. Assim, na época do imperialismo constituiu-se uma espécie de aliança entre a burguesia de determinada nação e a parte privilegiada da classe operária, aliança essa dirigida contra toda a massa do proletariado a fim de dominar outras nações. Foi principalmente essa circunstância que impediu a classe operária de se tornar a força dirigente da nação, de quebrar a dominação de «sua» burguesia.

A classe operária defende resolutamente a liberdade e a independência dos povos, o direito das nações de dispor de si mesmas; por isso é que ela, de maneira realmente consequente, defende a pátria contra toda investida por parte dos escravizadores estrangeiros.

O socialismo traz a paz a todos os povos, a eliminação completa de toda guerra; mas, em virtude da desigualdade do desenvolvimento econômico e político do capitalismo na época do imperialismo, a revolução socialista não pode triunfar ao mesmo tempo no mundo inteiro. Enquanto existir o capitalismo, o perigo de guerra persiste. Os imperialistas lutam por uma nova partilha do mundo e tentam desencadear uma nova guerra mundial. As classes dominantes das potências capitalistas não aceitam a existência dos países socialistas; tentam com todas suas forças enfraquecer e destruir as primeiras repúblicas socialistas.

Foi nos dias tempestuosos da grande e histórica revolução de outubro de 1917 que nasceu a primeira pátria socialista do mundo. A partir, desse momento, o patriotismo tornou-se um poderoso instrumento de defesa e desenvolvimento do Estado socialista. A experiência histórica mundial da luta vitoriosa da União Soviética contra os imperialistas estrangeiros confirmou brilhantemente a justeza da teoria e da tática do Partido Comunista nas questões de defesa da pátria. Hoje os Partidos Comunistas e operários dos países de democracia popular apoiam-se nessa experiência para cortar pela raiz todas as intrigas dos imperialistas contra a liberdade e a independência das novas pátrias socialistas, que consolidam seus Estados e defendem com a União Soviética a causa da. paz e da segurança dos povos.

Na época atual, a defesa da soberania nacional e a luta contra a ameaça de escravização estrangeira assumiram uma importância vital para a classe operária, e os trabalhadores, de todos os países. A segunda guerra mundial e a política realizada desde a guerra pelas principais potências capitalistas mostram que o imperialismo atual tenta dominar não só as colônias mas também os países desenvolvidos. A luta dos imperialistas pela dominação do mundo não mais se limita ao desejo de arrancar de seus concorrentes as colônias, as esferas de influência ou uma parte de territórios; ela abrange também os esforços para a liquidação da independência e da soberania das nações há muito tempo constituídas historicamente. Tais são as consequências extremamente perigosas para o destino dos povos, consequências essas a que leva a ação da lei econômica fundamental do capitalismo atual.

Sabe-se que durante a segunda guerra mundial, os imperialistas hitleristas ocuparam a Tcheco-eslováquia, a Polônia, a Grécia, a Iugoslávia, a Bélgica, a França, a Noruega e outros países, e destruíram sua independência, instalando ali seus agentes — os Quisling e os Pétain. A mesma sorte ameaçava outros países em que os escravizadores fascistas alemães e japoneses houvessem conseguido a vitória. Durante os duros anos de domínio dos imperialistas alemães na Europa e dos imperialistas japoneses em considerável parte da Ásia, os Partidos Comunistas lutaram com abnegação para libertar suas pátrias do jugo fascista. Os comunistas mostraram ser os mais firmes, os mais resolutos e os mais dedicados na luta contra o jugo fascista, e pelo restabelecimento da liberdade e da independência de seus países.

Depois da guerra, os imperialistas americanos intensificaram a luta pelo domínio mundial e procuraram privar os povos de sua soberania nacional e de sua independência. A criação das bases militares e acantonamento de forças armadas dos Estados Unidos nos países da Europa e da Ásia; a organização dos blocos militares e políticos; a intromissão dos monopolistas americanos nos negócios internos de outros países, e seus esforços para instaurar nesses países o regime mais reacionário possível; a submissão da economia dos Estados capitalistas ao capital americano; a «exportação» da cultura do dólar e o sufocamento da cultura nacional de outros povos, — tudo isso leva à destruição da soberania nacional e à instauração do jugo estrangeiro nos países dependentes dos Estados Unidos. Os imperialistas dos Estados Unidos tentam dominar não somente os países fracos e os pequenos Estados, mas também países como a Inglaterra e a França.

Nos países capitalistas desenvolvidos a burguesia monopolista ligada aos trustes internacionais, é que constitui a força governante. Para a burguesia imperialista, seus interesses de classe — estreitamente egoísticos — e seu desejo de obter um lucro máximo estão acima da pátria, acima da independência e da soberania nacionais. A burguesia dos «compradores» representa o mesmo papel de trairão aos interesses nacionais nas colônias e nos países dependentes.

É a classe operária que de forma consequente defende a soberania e a independência nacionais dos povos, reunindo em torno de si as mais amplas massas de trabalhadores, que odeiam os imperialistas estrangeiros e os monopolistas de seus países como estranguladores da liberdade e responsáveis pela ruína e pauperismo crescentes. Nessa luta, as camadas progressistas de intelectuais nacionais que tomam cada vez mais resolutamente a defesa da cultura nacional, das liberdades democráticas e da causa da paz representam grande papel. A conduta antipatriótica da burguesia monopolista isola-a cada vez mais das massas.

As camadas da burguesia cujos interesses são lesados pelo capital monopolista tendem também à defesa da soberania nacional. Essa parte da burguesia sente que a invasão do capital americano, e das uniões monopolistas do gênero da comunidade europeia do carvão e do aço a levam à ruína. Diante da crescente ameaça de bancarrota econômica, ela é levada a procurar o apoio das massas populares contra o imperialismo americano. Nas colônias e nos países dependentes, certas camadas da burguesia nacional, cujos interesses são ainda muito mais lesados pelo capital estrangeiro e pelo curso dos acontecimentos, são impulsionadas à luta pela independência nacional, se bem que as hesitações dessas camadas sejam universalmente conhecidas.

Não se deve tampouco superestimar a força da aliança dos monopolistas nas comunidades imperialistas internacionais. A experiência mostra que essas alianças de exploradores contra explorados não eliminam de maneira alguma as contradições, a concorrência encarniçada e as guerras entre grupos e uniões de monopolistas concorrentes. Ao lado da tendência à união dos imperialistas de todos os países na base do desenvolvimento das associações monopolistas internacionais existe, e se acentua, uma tendência que opõe certas potências imperialistas a outras no terreno da luta pelo domínio do mundo. Sabe-se que os imperialistas esperam unir as nações na economia mundial, não por acordos livremente aceitos pelas nações na base de princípios vantajosos para todos, mas por sujeição econômica e por submissão dos povos através da violência, das conquistas, das anexações, etc.. As contradições entre as potências imperialistas na base da luta pela dominação mundial pelos mercados e pelas esferas de influência enfraquecem e solapam os blocos internacionais dos imperialistas.

Os Partidos Comunistas que estão à frente da classe operária são os porta-bandeiras da luta pela reorganização da sociedade em base socialista, pela independência nacional. Os comunistas são verdadeiros patriotas, são lutadores consequentes em prol da independência de seus países e contra a ameaça de dominação vinda do estrangeiro.

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